terça-feira, 4 de setembro de 2007

Morre Lentamente - Pablo Neruda


Morre lentamente

Quem não viaja

Quem não lê

Quem não ouve música

Quem destrói o seu amor-próprio

Quem não se deixa ajudar...


Morre lentamente

Quem se transforma escravo do hábito,

Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,

Quem não muda as marcas no supermercado,

Não arrisca vestir uma cor nova,

Não conversa com quem não conhece.


Morre lentamente

Quem não vive uma paixão,

Quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"

a um turbilhão de emoções indomáveis

Justamente as que resgatam brilho nos olhos,

Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.


Morre lentamente

Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,

Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,

Quem não se permite, uma vez na vida,

Fugir aos conselhos sensatos.



Morre lentamente

Quem passa os dias queixando-se

Da má sorte ou da chuva incessante,

Desistindo de um projecto antes de o iniciar.

Não perguntando sobre o assunto que desconhece

E não esperando quando lhe indagam o que sabe.