segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Torcida da sua vida - Carlos Drummond de Andrade

"Mesmo antes de nascer, já tinha alguém torcendo por você."
Tinha gente que torcia para você ser menino.
Outros torciam para você ser menina.
Torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai.
Estavam torcendo para você nascer perfeito.
Daí continuaram torcendo.
Torceram pelo seu primeiro sorriso, pela primeira palavra, pelo primeiro passo.
O seu primeiro dia de escola foi a maior torcida.
E o primeiro gol, então?
E de tanto torcerem por você, você aprendeu a torcer.
Começou a torcer para ganhar muitos presentes e flagrar Papai Noel.
Torcia o nariz para o quiabo e a escarola.
Mas torcia por hambúrguer e refrigerante.
Começou a torcer até para um time.
Provavelmente, nesse dia, você descobriu que tem gente que torce diferente de você.
Seus pais torciam para você comer de boca fechada, tomar banho, escovar os dentes, estudar inglês e piano.
Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana.
Seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula, falar palavrão.
Eles também estavam torcendo para você ser bacana.
Nessas horas, você só torcia para não ter nascido.
E por não saber pelo que você torcia, torcia torcido.
Torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir.
E quando os hormônios começaram a torcer, torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso.
Depois começou a torcer pela sua liberdade.
Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua.
Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa.
Passou a torcer o nariz para as roupas da sua irmã, para as idéias dos professores e para qualquer opinião dos seus pais.
Todo mundo queria era torcer o seu pescoço.
Foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro.
Torceu para ser médico, músico, advogado.
Na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol.
Seus pais torciam para passar logo essa fase.
No dia do vestibular, uma grande torcida se formou.
Pais, avós, vizinhos, namoradas e todos os santos torceram por você.
Na faculdade, então, era torcida pra todo lado.
Para a direita, esquerda, contra a corrupção, a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina.
E, de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo de tanto olhar para ela.
Primeiro, torceu para ela não ter outro.
Torceu para ela não te achar muito baixo, muito alto, muito gordo, muito magro.
Descobriu que ela torcia igual a você.
E de repente vocês estavam torcendo para não acordar desse sonho.
Torceram para ganhar a geladeira, o microondas e a grana para a viagem
de lua-de-mel.
E daí pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida.
Porque, mesmo antes do seu filho nascer, já tinha muita gente torcendo por ele.
Mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda não tenha conquistado algumas coisas.
Mas muita gente ainda torce por você!"

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Amazing Grace - John Newton

Amazing Grace (How sweet the sound)
That sav'd a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
'Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears reliev'd;
How precious did that grace appear,
The hour I first believ'd!
Thro' many dangers, toils and snare,
I have already come;
'Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
The Lord has promised good to me.
His word my hope secures;
He will my shield and portion be,
As long as life endures.
Yes, when this flesh and heart shall fail,
And mortal life shall cease;
I shall profess, within the vail,
A life of joy and peace.
The earth shall soon dissolve like snow,
The sun forbear to shine;
But God, who call'd me here below,
Will be for ever mine.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Lua do Tigre - Antónia Michaelis



O que me atraiu neste livro foi a imagem da capa, os olhos hipnóticos do tigre prenderam-me e a imagem do Taj Mahal aguçou a minha curiosidade.

Apesar de não conhecer a autora fiquei intrigada com a sua biografia: nasceu em 1979 na Alemanha e desde sempre escreveu. Depois de acabar o ensino secundário instalou-se no sul da Índia, onde viveu durante 1 ano, trabalhou como professora numa escola de Madras e viajou pela Turquia, Itália, Grécia, Síria e Reino Unido. No momento vive novamente na Alemanha onde se licenciou em medicina e se dedica á escrita.

Desde sempre senti uma inexplicável ligação com a Índia e o facto de a autora ter tido coragem de sair do seu país natal para passar um ano no meio de uma cultura tão diferente da Alemã despertou o meu interesse.

Afundei-me na leitura e, ao fim da primeira página, já não me lembrava que a autora não era indiana pois emergi no meio da Índia, senti os seus cheiros (por vezes não muito agradáveis), vi a sua cor e viajei no dorso de um tigre para salvar uma princesa.

Nesta história temos os ingredientes todos para uma excelente aventura:
Um país exótico (a Índia colonial do séc. XIX);
Uma princesa, filha de um Deus raptada por um demónio (os indianos têm centenas de Deuses e de demónios);
Um ladrão incumbido de a salvar ( “És tu o escolhido para cumprir a missão: irás através do fogo, da água e do vento.”);
Um tigre branco sagrado, que tem medo da água e que se torna no companheiro de viagem do ladrão e que o ajuda a obter uma pedra preciosa especial, necessária para subornar o servo do demónio para que este os ajude a libertar a princesa;
Um ladrão de mil e uma caras que vai sempre tentar roubar a pedra ao nosso ladrão que ao longo da aventura se vai transformando num herói;
E, claro, uma linda história de amor entre uma princesa e….

Têm mesmo de ler o livro pois este não é um romance de capa e espada comum, onde logo no princípio se sabe quem são os maus e ao bons, o herói e a heroína. È uma história que nos guia por um país, algumas das sua tradições e costumes e por uma filosofia de vida diferente mas muito rica e interessante.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Morre Lentamente - Pablo Neruda


Morre lentamente

Quem não viaja

Quem não lê

Quem não ouve música

Quem destrói o seu amor-próprio

Quem não se deixa ajudar...


Morre lentamente

Quem se transforma escravo do hábito,

Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,

Quem não muda as marcas no supermercado,

Não arrisca vestir uma cor nova,

Não conversa com quem não conhece.


Morre lentamente

Quem não vive uma paixão,

Quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"

a um turbilhão de emoções indomáveis

Justamente as que resgatam brilho nos olhos,

Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.


Morre lentamente

Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,

Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,

Quem não se permite, uma vez na vida,

Fugir aos conselhos sensatos.



Morre lentamente

Quem passa os dias queixando-se

Da má sorte ou da chuva incessante,

Desistindo de um projecto antes de o iniciar.

Não perguntando sobre o assunto que desconhece

E não esperando quando lhe indagam o que sabe.






quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O Bom Nome - Jhumpa Lahiri



Qual a importância do nosso nome?
Será que seríamos pessoas diferentes se em vez do nome que temos, os nossos pais tivessem escolhido outro?
Será que um António seria diferente se se tivesse chamado Rodrigo?
Ou a Maria se se chamasse Alexandra?

Na índia existe o costume de se ter mais do que um nome.
O “Bom nome” é normalmente escolhido por um dos anciões da família e é aquele nome que vai aparecer em todos os documentos pessoais, nas listas telefónicas, em envelopes, diplomas, etc…. Depois existe o nome carinhoso, a alcunha, que a família adopta e que só utiliza dentro de casa. Ao longo da vida são vários os nomes que se vai tendo conforme se vai crescendo e sendo irmão mais velho de alguém, tio, pai, sobrinho, etc.…

E o que acontece se um casal indiano se muda para um país diferente, uma cultura diferente, novos amigos, sem terem o apoio da família e tendo-se conhecido apenas na altura do seu casamento?
“O Bom Nome” conta-nos a vida de um casal de indianos que parte para os Estados Unidos á procura de uma vida diferente. Ele é professor universitário e ela dona de casa.
Ficamos a conhecer os costumes indianos e as dificuldades que este casal tem para se adaptar a uma cultura tão diferente e ao mesmo tempo preservar os seus próprios usos e costumes.
Vamos acompanhá-los no nascimento e crescimento dos filhos e na luta por tentar mantê-los ligados á Índia e á sua cultura pois eles tornam-se cada vez mais americanos.
A complicação da escolha do nome do filho mais velho e de como isso o vai condicionar a vida toda. Ele não entende porque é que os pais escolheram aquele nome, principalmente porque é um nome russo e eles são indianos a viver nos Estados Unidos e não têm qualquer ligação com a Rússia. Quando o pai lhe tenta explicar o porquê da escolha ele fica impressionado com a razão da escolha mas não lhe dá a importância que o seu pai gostaria e por isso continua revoltado.
Quando finalmente resolve tomar uma atitude e mudar de nome, verifica que afinal uma decisão que parecia tão fácil se torna difícil pois para algumas pessoas ele vai continuar sempre o mesmo, vão continuar e tratá-lo pelo mesmo nome e apesar de ele se identificar com o novo nome não se sente tão confortável como esperava.

Jhumpa Lahiri nasceu em Londres, há 40 ano,s e agora vive em Nova Iorque.
Com a sua primeira obra, “Intérprete de Enfermidades”, ganhou o Prémio Pulitzer de Ficção, o Pen/Hemingway e o prémio atribuído pelo New Yorker.
“O Bom Nome” é o seu primeiro romance e foi imediatamente adaptado para o cinema pela consagrada cineasta Mira Nair.

Não deixem de ler o livro e, depois, é obrigatório ver o filme para se deixarem inebriar pela cor e pelas magníficas interpretações.

terça-feira, 3 de julho de 2007

“Para ti, uma vida nova” de Tiago Rebelo e “Uma viagem Espiritual” de Nicholas Sparks



Este mês proponho a leitura de dois livros, pois com as férias e as idas á praia de certeza que vão arranjar um tempinho extra para a leitura.
Seleccionei dois livros pequeninos e muito agradáveis. São duas histórias diferentes mas com o mesmo objectivo: a procura da felicidade.

O primeiro livro é de um autor português que conta já com inúmeros livros publicados: Tiago Rebelo, que iniciou a sua actividade como jornalista da RTP e da Rádio Renascença na década de 80, é actualmente editor da informação diária da TVI e, além dos inúmeros romances publicados para adultos publicou também livros para crianças. Aconselho assim os papás a comprarem também um livro deste autor para os seus filhos.

“Para ti, uma vida nova” é o primeiro romance deste autor, apesar de ter seleccionado este, aconselho qualquer um dos seus livros.
Esta é uma história de amor entra duas pessoas adultas, um divorciado e uma casada, que procuram simplesmente ser felizes. Com um enredo bem estruturado e surpreendente, preparem os lenços de papel pois duvido que não fiquem com uma lagrimazinha no olho no fim.

O segundo livro que vos proponho é de um autor mundialmente conhecido, não só pelos livros mas também pelos filmes adaptados dos seus romances. Quem não leu, de certeza que viu ou pelo menos ouviu falar de “As palavras que nunca te direi”, “O Diário da nossa paixão”, “Momento inesquecível” ou de “Corações em Silêncio”.
Nicholas Sparks começou a escrever aos 19 anos, durante algum tempo foi delegado de informação médica até que, uma agente literária o começou a representar e vendeu os direitos de “O Diário da Nossa Paixão”, o sucesso foi imediato e o livro permaneceu 56 semanas no top de vendas americano. Todos os romances que se seguiram foram um sucesso e todos são de leitura obrigatória.
“Uma viagem Espiritual” é nas palavras do autor “um pequeno tesouro: valioso, insubstituível e inestimável.”
Este livro foi escrito em parceria com Billy Mills, e leva-nos numa viagem pela cultura dos índios norte-americanos. Vamos tentar encontrar, juntamente com David, o caminho da felicidade. Vamos perceber os mitos em que a sociedade nos faz acreditar e temos aqui uma hipótese para reflectir e meditar na nossa vida e naquilo que realmente nos faz felizes.
David fica intrigado com o facto de seu pai andar sempre com um ar feliz, e nem mesmo as mortes que ocorrem na família lhe tiram o ar de felicidade. David resolve perguntar ao pai como pode fazer para ser como ele. O pai oferece-lhe um antigo pergaminho com dez figuras que representam os 10 passos para se ser realmente feliz. O pequeno Índio vai ter de fazer uma viagem dentro de si próprio para se conhecer melhor e para perceber o que fazer para alcançar a felicidade.

Não deixem de ler este livro e aproveitem para utilizar alguns dos conselhos e meditações na vossa vida. Acreditem, é preciso muito pouco para se ser feliz e só depende de nós próprios.

Boas férias e boas leituras.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Alquimista

Paulo Coelho
“É justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante.”

Depois de no mês passado vos ter falado do livro que me enfeitiçou para a leitura, este mês venho falar-vos de um livro que eu considero mágico.
Um livro não necessita de ter muitas páginas, muito enredo, personagens ou muitas reviravoltas para ser um livro inesquecível.
“O Alquimista” é um livro de poucas páginas, com um enredo simples, com as personagens necessárias e com um final surpreendente.
Santiago era um rapaz que queria viajar pelo mundo e conhecer outras terras. Foi-lhe dito que só os pastores viajavam com as suas ovelhas por locais mais distantes, então Santiago resolveu ser pastor.
De visita a uma cidade resolve consultar uma velha cigana para tentar descobrir o significado de um sonho que teve várias vezes, a cigana aconselha-o a seguir o seu sonho pois os sonhos são a maneira de Deus nos revelar a nossa Lenda Pessoal, aquilo que viemos cumprir quando nascemos.
Santiago fica desanimado pois, para seguir o seu sonho tem de ir até ao Egipto procurar um tesouro oculto e, isso fica muito longe para um simples pastor da Andaluzia.
Quando já tinha desistido conhece um velho que o ensina a ver os sinais de Deus, sinais que ele já conhecia do seu tempo de Pastor mas que não sabia interpretar.
Depois das lições do velho, Santiago resolve seguir a sua Lenda Pessoal e inicia a sua viagem. Vai ter muitos contratempos, vai conhecer muitas pessoas, vai crescer, vai-se apaixonar, casar e finalmente vai chegar ao seu destino e …
Não revelo o desfecho do livro pois acho que não é muito importante e espero que o leiam pois além da história de Santiago vamos ficar a conhecer inúmeras histórias simbólicas que além de ajudarem o Pastor a amadurecer também nos ajudam a perceber que devemos seguir o nosso coração e os nossos sonhos, apesar do sofrimento que às vezes encontramos pelo caminho.

“… o medo de sofrer é pior do que o próprio sofrimento. … nenhum coração jamais sofreu quando foi em busca dos seus sonhos, porque cada momento de busca é um momento de encontro com Deus e com a Eternidade.”

Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Além de escritor conceituado, com uma vasta obra literária traduzida em quase todas as línguas, foi também autor e director de teatro e compositor de Música Popular Brasileira.

Aconselho vivamente este e os outros livros do autor. Todos nos ensinam que devemos manter-nos conectados com Deus e que nunca nos devemos esquecer de vivenciar a nossa Lenda Pessoal.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Capitães da Areia

Capitães da Areia
Jorge Amado


Andava eu no 1º ano do Ciclo Preparatório quando a minha professora de português nos falou deste livro e nos desafiou a ler esta obra. Desde essa primeira vez nunca mais perdi “os Capitães” de vista e volta e meia torno a passar os olhos pelas personagens que me enfeitiçaram.
Como o livro que eu tinha era já muito antigo, resolvi comprar uma edição mais recente, actualizada e revista pelo autor, pois os livros de Jorge Amado foram censurados pelo regime instituído no Brasil, e continham inúmeras incorrecções e cortes em relação ao texto original. No caso de “Capitães da Areia”, publicado pela primeira vez em 1937, foram cerca de duas mil as correcções necessárias para devolver aos leitores o texto original.
Assim foi com uma enorme surpresa que eu redescobri a história dos “Capitães da Areia”, meninos perdidos, abandonados, órfãos que fazem
lembrar um pouco o Peter Pan e a Terra do Nunca, mas que ao contrário deste não têm poderes mágicos nem uma fada para os ajudar.
Apesar da vida difícil, das injustiças e perseguições, também eu quis correr pelas ruas de Salvador da Baía juntamente com Pedro Bala e os seus companheiros. Planear assaltos e esquemas com o Professor e o Gato, espiar e reunir informações (tal qual uma Mata-Hari) com o Sem-Pernas, rezar com o Pirulito e juntamente com o Volta Seca, fazer parte do Bando do Lampião.
A ânsia de aventura e heroísmo das personagens é contagiante e, se por vezes os seus actos são questionáveis, logo são perdoados pois sentimo-nos cúmplices e talvez um pouco invejosos da sua liberdade e coragem.
Não podia deixar de falar da doçura de Dora, mãe para as crianças do grupo, irmã para os mais velhos, companheira de aventuras dos capitães e por fim noiva, o grande amor de Pedro Bala. O grupo nunca mais foi o mesmo depois da sua passagem.
Acompanhar o percurso dos meninos que se fazem homens por uma questão de sobrevivência, e que procuram uma saída feliz para a vida injusta e maltratada que levam, sentir com eles o ódio a crescer e procurar aguentar só mais um dia, não deixa ninguém indiferente, talvez até (como dizia a canção) com uma lágrima no canto do olho.
Aconselho vivamente este livro pois duvido que alguém fique indiferente aos esquemas planeados para arranjar mais um dinheirinho, ás conquistas amorosas do Gato, ao amor de Pedro e Dora, á lealdade de João Grande, ás histórias do Professor, ao carrossel da praça, á bondade do Padre José Pedro, ao sonho de Volta Seca e aposto que quando terminarem o livro vão dar uma gargalhada como todo o grupo fazia quando o dia lhes corria bem.



“A gargalhada livre e grande dos Capitães da Areia ressoa na madrugada.”

terça-feira, 3 de abril de 2007

A Sombra do Vento



A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Zafón

“- Não podes contar a ninguém aquilo que vais ver hoje, Daniel....”
“- Nem sequer à mamã?...”
“- Claro que sim (...) Para ela não temos segredos. A ela podes contar tudo.”
Seis anos depois da morte da mãe, Daniel acompanha o pai a um sítio misterioso, um velho palácio que parecia abandonado mas que no seu interior guardava segredos:
“- Bem-vindo ao Cemitério dos Livros esquecidos, Daniel.”
“- O costume é que a primeira vez que alguém visita este lugar tem de escolher um livro, aquele que preferir, e adoptá-lo assegurando-se de que ele nunca desapareça, de que permaneça sempre vivo. É uma promessa muito importante. Para toda a vida – explicou o meu pai. – Hoje é a tua vez.”

Daniel deixa-se enfeitiçar por “A Sombra do Vento” e, depois de devorar o livro, decide procurar outros livros do mesmo autor, mas descobre que não existe mais nenhum pois alguém os foi destruindo, tentando com isso apagar os sinais da existência de Julián Carax. Porquê? Pergunta-se Daniel.
Na tentativa de encontrar uma resposta damos por nós a acompanhar Daniel Sempere na sua procura pelos livros de Julián Carax, ao longo de várias décadas, pelas ruas de Barcelona, na primeira metade do séc. XX.
Somos levados com ele para o meio de uma emocionante teia de segredos, amores, ciúmes e traições, onde desfilam personagens misteriosas, boas e más, mas que contribuem inequivocamente para o seu crescimento e para o desenlace do mistério em torno de Julián Carax.
Sem dar por isso entramos numa espiral vertiginosa que não nos deixa sair enquanto não descobrirmos quem era afinal Julián Carax e como é que uma caneta Mont Blanc que supostamente pertencera a Victor Hugo acaba nas mãos de Daniel e como é que a vida de um se torna quase a vida de outro e a espiral quase se torna um círculo.
As personagens que vão surgindo são apaixonantes e se ao princípio parecem que só servem para adornar a trama acabam por se mostrar indispensáveis para o resultado. Fermín Romero de Torres, um mendigo perseguido pelo temido inspector Javier Fumero revela-se um aliado fundamental, bem como um aventureiro que nos delicia com o seu bom humor e com o seu desembaraço na ajuda prestada a Daniel. O Guardião do Cemitério dos livros revela-se muito mais do que isso e a irmã do melhor amigo de Daniel acaba por ser fundamental.
A Sombra do vento é uma narrativa apaixonante onde nada é revelado por acaso e onde até os mais insignificantes apontamentos se revelam de uma importância crucial.

A Sombra do Vento é o primeiro romance para adultos de Carlos Ruiz Zafón e converteu-se instantaneamente no romance espanhol de maior êxito mundial, conquistando milhões de leitores e obtendo inúmeros prémios literários. Em Portugal foi distinguido com o prémio “correntes d´Escritas 2006”.

“Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, o eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo – não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descubramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos -, vamos regressar.”
Para o próximo mês vou-vos falar do primeiro livro que realmente me enfeitiçou para a leitura e ao qual regresso de vez em quando para me certificar que as personagens continuam á minha espera.

“A Fórmula de Deus”


“A Fórmula de Deus”
De José Rodrigues dos Santos


Poucos são os livros que me prendem de uma forma tão forte como aconteceu com este.
José Rodrigues dos Santos com a sua maneira de escrever clara e apaixonante envolve-nos numa teia de mistério que nos obriga a passear com o livro para conseguirmos aproveitar todos os momentos disponíveis para ler mais umas linhas.
Este romance, baseado nas mais recentes e avançadas descobertas científicas, leva-nos numa viagem inesquecível cheia de mistérios, intrigas internacionais, amor e claro traições.
O seu herói, Tomás Noronha, historiador, especialista em criptografia, é arrastado para o mistério da Fórmula de Deus, um poema escrito e encriptado por Albert Einstein, e o que parecia uma simples fórmula da Física revela-se muito mais.
Neste livro “viajamos” entre o Cairo, os Estados Unidos, o Irão, o Tibete e Portugal, numa viagem que acaba por se revelar extremamente empolgante, uma odisseia espiritual da procura do sentido da vida e da maior procura de sempre: a prova cientifica da existência de Deus.
O autor consegue de uma forma muito clara e concisa expor e explicar as mais diversas teorias da física, da química, da cosmologia e da matemática. A forma como todas as teorias são expostas leva-nos a entender um pouco melhor o mundo que nos rodeia e a perceber que tudo está relacionado: a ciência e a espiritualidade / religião andam desde sempre da mãos dadas.
José Rodrigues dos Santos nasceu em Moçambique, abraçou o jornalismo na rádio Macau, tendo ainda trabalhado na BBC e na CNN. Doutorou-se em Ciências da Comunicação, é professor da UNL e jornalista da RTP. Este é o seu quarto romance.