segunda-feira, 7 de maio de 2007

Capitães da Areia

Capitães da Areia
Jorge Amado


Andava eu no 1º ano do Ciclo Preparatório quando a minha professora de português nos falou deste livro e nos desafiou a ler esta obra. Desde essa primeira vez nunca mais perdi “os Capitães” de vista e volta e meia torno a passar os olhos pelas personagens que me enfeitiçaram.
Como o livro que eu tinha era já muito antigo, resolvi comprar uma edição mais recente, actualizada e revista pelo autor, pois os livros de Jorge Amado foram censurados pelo regime instituído no Brasil, e continham inúmeras incorrecções e cortes em relação ao texto original. No caso de “Capitães da Areia”, publicado pela primeira vez em 1937, foram cerca de duas mil as correcções necessárias para devolver aos leitores o texto original.
Assim foi com uma enorme surpresa que eu redescobri a história dos “Capitães da Areia”, meninos perdidos, abandonados, órfãos que fazem
lembrar um pouco o Peter Pan e a Terra do Nunca, mas que ao contrário deste não têm poderes mágicos nem uma fada para os ajudar.
Apesar da vida difícil, das injustiças e perseguições, também eu quis correr pelas ruas de Salvador da Baía juntamente com Pedro Bala e os seus companheiros. Planear assaltos e esquemas com o Professor e o Gato, espiar e reunir informações (tal qual uma Mata-Hari) com o Sem-Pernas, rezar com o Pirulito e juntamente com o Volta Seca, fazer parte do Bando do Lampião.
A ânsia de aventura e heroísmo das personagens é contagiante e, se por vezes os seus actos são questionáveis, logo são perdoados pois sentimo-nos cúmplices e talvez um pouco invejosos da sua liberdade e coragem.
Não podia deixar de falar da doçura de Dora, mãe para as crianças do grupo, irmã para os mais velhos, companheira de aventuras dos capitães e por fim noiva, o grande amor de Pedro Bala. O grupo nunca mais foi o mesmo depois da sua passagem.
Acompanhar o percurso dos meninos que se fazem homens por uma questão de sobrevivência, e que procuram uma saída feliz para a vida injusta e maltratada que levam, sentir com eles o ódio a crescer e procurar aguentar só mais um dia, não deixa ninguém indiferente, talvez até (como dizia a canção) com uma lágrima no canto do olho.
Aconselho vivamente este livro pois duvido que alguém fique indiferente aos esquemas planeados para arranjar mais um dinheirinho, ás conquistas amorosas do Gato, ao amor de Pedro e Dora, á lealdade de João Grande, ás histórias do Professor, ao carrossel da praça, á bondade do Padre José Pedro, ao sonho de Volta Seca e aposto que quando terminarem o livro vão dar uma gargalhada como todo o grupo fazia quando o dia lhes corria bem.



“A gargalhada livre e grande dos Capitães da Areia ressoa na madrugada.”

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